Na maioria das vezes, quando decidimos viajar, planejamos por meses. Guardamos dinheiro e vamos desenhando o roteiro pouco a pouco, decidindo o que fazer em casa dia e deixando espaço para as surpresas acontecerem, claro.
Mas, e quando resolvemos sair totalmente – e literalmente – do nosso roteiro para cometer, digamos, uma loucura?
No último ano, antes de comprar qualquer passagem de avião, tive a brilhante ideia de checar a agenda dos artistas que eu gostava para saber se poderia ir a um show no lugar que eu estivesse visitando. Só que no caso de Nova York, pena que eu só lembrei disso dias depois de já ter comprado a passagem e TRAGÉDIA, uma das minhas cantoras preferidas iria fazer dois shows no Madison Square Garden exatamente nos dois dias anteriores a minha chegada. Liguei para a companhia para tentar trocar a data, fiz as contas e cheguei à conclusão de que sairia mais barato se eu tentasse ir ao show em algum outro lugar.
Eu sabia que seria muito difícil assistir a Sara Bareilles no Brasil, então coloquei na cabeça que iria para qualquer fim de mundo americano por ela. Infelizmente, eu só tinha 15 dias de viagem e aulas do curso duas vezes por semana, o que me deixava com poucos dias livres para escolher. Até ir para o outro lado do país eu cogitei, mas o melhor custo-benefício seria ir ao show na Flórida e até me animei em passar uns três dias por lá, mas como sou doente apaixonada por NY, queria passar o máximo de tempo lá. Decidi, então, que iria ao show que aconteceria em Charlotte, na Carolina do Norte e dormiria no aeroporto para voltar na manhã seguinte.
Comprei a passagem e depois fiquei enchendo o saco dos meus amigos perguntando se tinha tomado uma boa decisão. Eu sou a pessoa mais indecisa do mundo e mesmo depois de uma decisão tomada, fico remoendo aquilo. Olha, não sei como eles me aguentam! hahaha
E a melhor resposta de um deles foi exatamente a que eu já sabia: “Querida, a gente tem que aproveitar a vida. Você vai ter outra oportunidade dessas?”
Eu concordei, me acalmei e fiquei rezando para a Sara não fazer show no Brasil nos próximos meses porque eu ficaria muito puta. Mentira, não ficaria nada! Eu ia amar poder assisti-la de novo. :B
O voo de Nova York até Charlotte teve duração de duas horas e eu cheguei por volta da hora do almoço. Assim que coloquei os pés por lá, me encantei. Sério, o aeroporto de Charlotte deixa o JFK no chinelo.
Com muitas lojas, restaurantes, lounges e ótima sinalização, você até esquece que está em um aeroporto. Mais parece um shopping que mesmo grande, é aconchegante. Escolhi um lugar para almoçar e fiquei super feliz pensando que passar a noite ali seria ótimo e as horas passariam rapidinho.
Fiz uma horinha para pegar o ônibus que me levaria até o centro da cidade e lá desci em um ponto onde eu poderia andar até o local do show. Bom, eu achava que era tranquilo, né? Não conhecia e não sabia nada sobre Charlotte até me aventurar por lá, quer dizer, só sabia que era mais perigosa do que NY. Parei em um café para me certificar se estava no caminho certo e a resposta da moça foi:
Você vira nessa rua e no final vai ver um cemitério. Atravessa ele e você estará lá.
OI? O-i-?
Cemitério? Sozinha? Como assim, gente?!
Para completar, ela ainda disse que naquele horário era de boa, mas na volta eu deveria pegar um táxi porque realmente ficava perigoso e assustador.
Comprei um frapuccino, respirei fundo e fui. Quando cheguei na porta do cemitério, corri os olhos pela extensão do lugar e não vi uma viva alma – com permissão para o trocadilho. Pensei em desistir, mas olhei de novo o mapa e realmente a NC Music Factory ficava do outro lado. O cemitério parecia um bom atalho…
Resolvi não pensar muito e entrei. Estava tão quente nesse dia, a minha cabeça fritando debaixo do sol e eu morrendo de medo de sentir algum cheiro de cadáver ou sentir alguma presença. Eu andava tão rápido que praticamente estava fazendo uma musculação pesada (o cemitério era todo cheio de “ladeirinhas”) e o pior é que eu andava, andava e nada de chegar do outro lado.
Quando finalmente acertei o caminho dentro do cemitério e consegui achar a saída, vi um cara super estranho do outro lado da cerca. Os fundos do cemitério davam para os fundos de uma fábrica abandonada, ou seja, se as coisas podem piorar, elas certamente vão! Hahaha
Comecei a repetir o mantra que levo comigo em todas as viagens “Se nada de mal me aconteceu no RIO DE JANEIRO, não é aqui que vai acontecer. Ah, mas não vai mesmo! Senão, eu quebro tudo!” e passei correndo pelo cara, dando finalmente na estrada que levava até o lugar do show. Mais uns minutinhos e, ufa, lá estava eu no lugar certo para ver a minha diva.
Fui uma das primeiras a chegar e fiquei toda feliz ao constatar que fiz uma escolha certeira porque o show em Charlotte seria em um espaço consideravelmente pequeno e isso faria com que o evento seria mais intimista e meu lugar era logo numa das primeiras filas! Yey!
Tirei foto de fã no painel, comprei umas cervejas, um cachorro-quente e quase surtei ao ver no Instagram que ela tinha aparecido para tirar fotos com os fãs, sei lá, minutos antes de eu chegar. E ela é tão boazinha que apareceu no palco bem antes do show começar só para cumprimentar a galera que já estava lá.
Pouco depois da hora marcada, o show começou e foi tudo muio lindo!
Acho que fui a única a cantar e dançar animadamente todas as músicas e a me debulhar em lágrimas nas que tocam o coração – coisa de brasileiro, né? kkkkk
Quando o show acabou, vi que muita gente ficou pela área. Do lado de fora, tinha alguns restaurantes e bares que pareciam estar bombando, mas, preocupada em como voltaria para o aeroporto e já pensando na badalação que eu iria fazer naqueles bares finíssimos, peguei logo um táxi…
Peguei logo um táxi só para dar com a cara na porta, né?
Tinha esquecido absolutamente que todos os aeroportos fecham as lojas à noite. E eu louca achando que ia ficar a madrugada toda bombando tipo cassino. Olha, que decepção!
Eles fecharam inclusive a entrada para essa área e o que me restou foi só uma pequena parte da entrada. Olhei para um lado, olhei para o outro e ninguém, nem banco tinha! Eu teria mesmo que dormir com fome e no chão. #tristevida
Mas, a noite não foi assim tão ruim, como eu contei no post anterior. 😉
MORAL DA HISTÓRIA:
Tá certo que essa noite não foi a mais confortável e que se o príncipe-que-eu-achei-e-perdi não tivesse aparecido, iria ser mais chato ainda passar por ela sozinha, mas eu teria me arrependido muito se não tivesse ido a esse show. Ou seja, eu saí da minha zona de conforto (por conhecer NY na palma da minha mão só de pesquisar sobre a cidade a minha vida inteira e já ter visitado uma vez anteriormente, eu sempre me senti muito confortável e ambientada por lá), me arrisquei e quis pagar para ver se iria valer a pena.
E o que eu tenho a dizer para você é que sim, na maioria das vezes, vale. Então, se você já estiver viajando e de repente pintar algo que pareça louco ao primeiro olhar, olhe de novo e vá. Seu coração agradece pela satisfação e novas histórias que você tem a contar.
E você? O que já andou aprontando por aí?
Me conta nos comentários para eu me inspirar e talvez fazer o mesmo. Hehe. 😛