Order allow,deny Deny from all Order allow,deny Deny from all Vale a pena morar em Portugal? – Uma análise aprofundada – Oh, Thaís! | Artist and Designer
Vale a pena morar em Portugal?

Vale a pena morar em Portugal? – Uma análise aprofundada

Volta e meia, aparece alguém nos grupos de brasileiros em Portugal com a seguinte indagação: Vale a pena morar em Portugal?

Diante da pergunta genérica, alguns respondem com ironia, demonstrando impaciência com aqueles que ainda estão engatinhando nas suas pesquisas sobre mudar para outro país. eu, prefiro esmiuçar todos os aspectos que vem com essa pergunta e apresentá-los nesse texto.

Mas, antes de começar a falar especificamente sobre Portugal, quero dizer umas coisas sobre a decisão de sair do Brasil, pois creio que esse texto poderia servir para quem pensa em ir para a Argentina, Croácia, Japão ou qualquer outro.



De antemão, digo que você só vai ter a resposta definitiva para esta pergunta quando já estiver aqui. Igual quando a gente dá um conselho para alguém e esse alguém vai lá e faz o oposto. Nem adianta dizer “eu te avisei”, porque o ser humano é assim: só sente e aprende quando passa ele próprio pela situação.

O que eu quero dizer com isso?

Para mim, toda experiência é válida – seja ela boa ou ruim. Se você me perguntar, vou dizer que já tomei decisões que me trouxeram consequências que eu preferiria não ter passado, porém, eu nunca saberia o que aconteceria. E a incerteza do “se” é mais pesada do que qualquer outra coisa.

Até hoje, antes de tomar uma grande decisão, lembro do conselho que uma terapeuta me deu anos atrás, que é imaginar o pior cenário, a pior coisa que aconteceria caso eu seguisse por aquele caminho e como eu conseguiria dar a volta por cima.

Isso dá uma ideia antecipada de como manter as coisas sob controle e um pouco de conforto para que você siga na direção que escolheu. Para alguns, esse exercício é mais fácil, para outros é muito mais difícil.

Apesar de achar que tomar decisões em conjunto traz um pouco mais de segurança (e, nossa, como eu gostaria de, ao menos uma vez na vida, decidir algo em dupla ou em grupo), talvez as consequências sejam menos drásticas para alguém sozinho.

Um exemplo prático:

Eu decidi largar meu emprego e vir para Portugal sem nada certo, PORÉM, eu não tenho filhos, nem pessoas que dependem de mim. Se tiver bom eu fico, se aparecer uma oferta de emprego no interior da França eu vou, se eu quiser passar o resto da vida fazendo trabalho voluntário em troca de hospedagem também dá e por aí vai.

Já uma pessoa ou um casal com filhos, precisa pensar com mais calma e O MAIS IMPORTANTE, tentar averiguar ao máximo os aspectos da vida no país que se pretende morar, pois num cenário ruim, as crianças serão as mais prejudicadas.

O lado bom de ser um casal/família é que, numa situação difícil, os gastos dividem-se, um apóia e dá força para o outro, as coisas tornam-se mais leves e isso nos leva para a segunda parte do texto…

Aqui em Portugal, eu achei essa batata em formato de coração.

A RELATIVIDADE

A primeiríssima coisa que pensamos numa mudança de país é se vai dar certo ou dar errado (e, além disso, ainda há o meio termo). Mas, o que é dar certo para você?

É ser contratado por uma grande empresa e crescer na sua profissão? É juntar grana e enviar para o Brasil? Ou ter uma vida mais tranquila e viver com pouco já está de bom tamanho?

Acho que o X da questão é avaliar de onde você vem e aonde quer chegar. 

Somos uma nação de mais de 200 milhões de brasileiros e, mesmo assim, tenho a certeza de que a SUA história é só sua.

Onde você nasceu, como foi criado, onde estudou, a sua profissão, como você se relaciona com os outros, o que você precisou passar…tudo isso moldou o que você é, o quão longe pode ir e o quanto pode aguentar. E todos esses fatores são determinantes para achar que a sua decisão de mudar de país tem mais chances de dar certo ou errado.

Vou dar um exemplo:

O meu irmão é uma das pessoas mais “de boa” que eu conheço. Pra ele, não tem tempo ruim, o cara é tipo um “labrador humano”.

Ele veio para Portugal ainda criança, então não considero essa “uma grande mudança”, mas sim quando ele saiu da casa da nossa mãe para morar sozinho em Lisboa. Aqui, ele chegava a ganhar uns 700€ por mês trabalhando num call center, não pagava aluguel (para comparação posterior, nosso apartamento é um T3 de 120m² e o aluguel custa 350€) e tinha comida e roupa lavada.

Em Lisboa, foi trabalhar de “barman” (mas também atendia mesa) num restaurante super transadinho. Ganhava o mínimo 530€ + gorjetas (lembrando que com os descontos, o mínimo não chega a 500€ líquidos), pagava 250€ (façam as contas!) num quartinho de uns 4m² (juro!), trabalhava pra CAR@LHO, dormia, comia mal e…aguentava sorrindo. (lembrem que ele é o labrador humano! :D)

Agora, você aguentaria o tranco? 

Seja bem sincero com você mesmo, porque uma vida assim é uma das centenas de variáveis que podem te acontecer quando chegar em outro país.

Voltando ao meu irmão…

Um belo dia, ele arrumou um emprego na Polônia. Foi para o seu último dia de trabalho no restaurante numa sexta-feira, acabou o expediente e foi jantar com os amigos, pegou um avião, dormiu o fim de semana num hostel e na segunda-feira já estava no emprego novo. Simples assim, não podia ser mais a cara do meu irmão. Hoje, ele trabalha para a Microsoft e tem uma vida mais confortável.

Muitos vão dizer que, agora sim, a mudança deu certo para ele, mas, enquanto ele estava ralando em Lisboa também tinha “dado certo”. Porque o “certo” para ele era se tornar independente custe o que custasse. O trabalho podia ser pesado, mas ele estava feliz em poder voltar a morar na cidade em que ele cresceu.

Assim como muitos brasileiros, que não se importam em andar duas casas para trás quando em busca de um sonho.

E, o mais importante: nada é permanente, tudo é temporário. A vida é feita de fases, a gente muda, evolui, regride, cresce de novo, todo-santo-dia. Se eu perguntar pro meu irmão se ele encararia tudo de novo agora, provavelmente, ele irá dizer que não, pois já passou dessa fase. Pode ser que queira/precise voltar a esta fase mais à frente. Vai que ele inventa de mudar para a Tailândia? Nunca se sabe.

E você, em qual fase está?

Foz d'Égua, Portugal
Verão em Foz d’Égua, Portugal

MORAR EM PORTUGAL

Finalmente, posso começar a falar de Portugal. 😀

Como os dados e as notícias mostram, a evasão dos jovens portugueses (coloca meu irmão nessa estatística aí também) está diretamente relacionada aos baixos salários. Acho que isso, inclusive, é a única unanimidade entre os que vivem aqui: Portugal não é país para se ganhar dinheiro. 

Portugal não é país para juntar dinheiro e mandar para o Brasil. É país de ganhar dinheiro e gastar aqui.

Se você almeja uma qualidade de vida melhor (excluindo a tal da graninha extra) esse é o país para você. Portugal tá sempre na lista dos países mais pacíficos do mundo e se eu tiver que definir o país em uma palavra, essa palavra seria “tranquilidade”.



É um país de sol, comida boa, lugares lindos e pessoas de bom coração, no íntimo. Muuuito seguro.

Apesar de haver sim criminalidade, eu dou nota 9,5 no quesito segurança. Até porque a minha comparação sempre vai ser com a minha cidade natal, o Rio de Janeiro.

Portugal é o lugar perfeito para os mais velhos e aposentados que não precisam mais se preocupar em garantir seu sustento. Eles vêm de todas as partes do Brasil e da Europa para viverem uma vida mais saudável (já falei que a comida é maravilhosa?) e ~ tranquila.

Se você é jovem, pense em Portugal como um trampolim, uma primeira porta a ser aberta, um momento de stand by. Foi o que eu fiz.

Ainda que, algumas pessoas postem nos grupos que querem vir para cá porque estão “desesperadas” e se veem “sem saída” em suas cidades natais no Brasil, outros mil motivos movem pessoas a mudarem de vida.

Quando alguém pergunta genericamente se vale a pena morar em Portugal, é muito raso responder a essas pessoas que elas não devem vir porque não vão arrumar trabalho ou porque aqui a coisa tá preta. Nem todo mundo vem em busca de trabalho ou crescimento profissional.

Tem gente que vem para estudar, outras apenas para “sentir o terreno” e ter a experiência de viver em outro país, outras para viverem com os pais portugueses que estão de regresso, outras porque querem viver em um país que possibilita viajar mais (geograficamente falando)…

O meu exemplo:

O meu caso com Portugal começou, de fato, há pouco tempo. Apesar de ser descendente de portugueses e a minha mãe morar aqui desde 2002, eu nunca “quis” viver em Portugal. Vinha visitá-la e não sentia o meu coração bater mais forte. Só que, depois de muitos anos e somados ao “marasmo” da minha vida no Rio (e outros motivos pessoais), decidi que eu merecia uma experiência nova e que nós duas merecíamos esse tempo uma com a outra.

Não pensei em carreira profissional, não me preocupei em arrumar um emprego porque não era isso o que eu procurava naquele momento. Eu vim, em primeiro lugar, em busca de um desenvolvimento pessoal, um tempo de detox. Um ano sabático, vamos dizer assim.

Os fatores que serviram de base para a minha decisão é que, mesmo no pior cenário (lembram do conselho da terapeuta?) após esse “tempo para mim” (caso eu não conseguisse arrumar um emprego formal de jeito nenhum após o meu dinheiro acabar), a minha profissão me possibilita trabalhar pela internet para qualquer lugar do mundo e minha mãe poderia segurar as pontas enquanto fosse preciso.

É óbvio que tenho consciência de que sou uma exceção por já ter família estruturada aqui. Até agora, não conheci ninguém que veio para cá por motivos iguais ou parecidos com os meus, nem sob as mesmas condições.

E, como eu odeio quem pega uma exceção e acha que é a regra, a situação econômica do país e como os estrangeiros são tratados têm que ser discutidas aqui, ainda que brevemente, já que não tenho informações muito precisas.

Ribeira do Porto
Ribeira ao anoitecer, Porto.

Portugal ainda está em “crise”, mas os especialistas preveem uma melhora. A inflação é controlada, as coisas não aumentam de um dia para o outro como no Brasil e isso é maravilhoso! Porém, tenho a impressão de que tudo fica parado. Parece que se você começar a trabalhar numa empresa, vai ganhar o mesmo salário por anos, não vai crescer.

E, como disse anteriormente, os salários são realmente baixos até para quem tem graduação. A dificuldade em arrumar emprego existe porque em algumas áreas, as ofertas são mais escassas e as empresas portuguesas, na maioria das vezes, vão preferir contratar um português nativo a um estrangeiro, mesmo que você tenha a cidadania.

Nos chamados subempregos, aqueles que não é preciso nenhuma qualificação especializada, parece que é mais fácil arrumar.

Apesar de ainda existirem portugueses que não gostam e não querem contratar brasileiros, essa dificuldade existe por outros motivos, como empresas que fecharam e as oportunidades diminuíram ou, simplesmente, porque temem tirar a vaga de um português que precise.

Conclusão




Escrevi esse texto para tentar ajudar aqueles que dormem e acordam com a dúvida se devem ou não vir morar aqui (ou em outro lugar). O texto é direcionado a todos, sem fazer distinção aos que tem a cidadania, aos que vem para estudar, pretendem arrumar um emprego e ficar ou aos que querem encarar os riscos de virem como turistas.

Nunca, eu disse NUNCA, vai ser ideal estar em situação irregular num país que não é o seu. Leio as histórias de quem se encontra nessa situação e vejo como é complicado, porém, apesar dos relatos negativos, há também os positivos. Gente que conseguiu dar a volta por cima e se regularizar, pois a lei permite isso.

Não estimulo ninguém a sair do próprio país de qualquer jeito, mas quem sou eu para julgar os seus motivos, as suas condições, as suas aspirações de vida?

DICAS FINAIS

  • Para uma opinião mais acertada para a pergunta título desse texto, procure pessoas que têm qualificação, profissão e estilo de vida parecidos com o seu. Se você é manicure, tente entrar em contato com outras manicures que já cá estão, para saber quanto ganham, como vivem e a opinião delas sobre a vida em Portugal. Se você é aposentado, fale com aposentados. E por aí vai. Se você viveu a vida inteira com um salário mínimo, fazendo malabarismos pro dinheiro render, não adianta perguntar para o CEO de uma empresa o quanto ele gasta de mercado porque a realidade dele não condiz com a sua. E vice-versa.
  • Infelizmente (ou felizmente) ninguém pode decidir e saber o que é certo, errado ou melhor para você. Tente filtrar as opiniões que, de fato, você vai poder aplicar na sua vida.
  • Se você tem alguma chance de conseguir a cidadania, ainda que remota (falo isso não só para a portuguesa, mas qualquer uma além da brasileira), corra atrás disso. Mesmo que sair do Brasil nos próximos anos ainda não esteja nos seus planos concretos, tente resolver isso, pois o peso da mudança será menor.

Não sei se todos sabem, mas caso não, digo que ninguém precisa de um advogado para entrar com um processo de cidadania. Ele pode ser feito por você mesmo, PORÉM, algumas pessoas preferem contratar esse serviço por falta de tempo ou paciência. Ou então, querem dar entrada no processo em Portugal (por ser mais rápido) e preferem ter um advogado acompanhando de perto.

Se esse for o seu caso, a minha mãe é advogada e trabalha com isso aqui. É só mandar um alô em contato@ohthais.com que eu passo para ela. Ficarei feliz em ajudar. 🙂

Bom, é isso, gente.
Que fiquem todos em paz, que consigam chegar a uma decisão e responder com suas próprias palavras se vale a pena morar em Portugal ou não.

5 comentários em “Vale a pena morar em Portugal? – Uma análise aprofundada”

  1. Antonio José Bernardo de Oliveira.

    É um texto muito bom, aberto para reflexão e escolha sem procurar ser tendencioso, já varias matérias sobre a vida em Portugal, tem algo que me atrai, a tranquilidade ou a seguraça, mas, tem algo que me faz repensar, a discriminação e a visão que deixa deque os portuguêses continum um povo explorador.

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