Este é o primeiro post da série Mochilão Sudeste Asiático e eu resolvi começar pelo voluntariado porque esse foi o principal motivo da minha viagem até “o outro lado do planeta”.
No Brasil, eu já era voluntária junto a uma instituição (a SOZED) porque por amar cachorros e não ter nenhum :(, procuro sempre ajudar e estar em contato com eles o máximo de tempo que consigo. Queria ter a experiência de ser voluntária fora do país e conversando com uns amigos que já estavam de viagem marcada para a Ásia, fiquem sabendo de uns programas de voluntariado com animais na Tailândia.
Comecei a pesquisar e, de cara, encontrei algumas reviews sobre o programa no Elephant Nature Park. Uma delas em um site que eu já conhecia, feita por um cara que roda o mundo fazendo voluntariado e outros trabalhos, o Around the world in 80 jobs.
A maior parte das reviews era sobre o trabalho com os elefantes e, inicialmente, minha ideia era passar uma semana com os elefantes e outra com os cachorros, porém, o programa dos elefantes custava o triplo do preço e o trabalho parecia ser MUITO mais pesado, incluindo preparar 200kg de comida por dia, colher milho embaixo de sol e limpar o côcô dos elefantes com pás gigantes. Mas, só parecia ser mais pesado, depois explico porquê.
Sendo assim, optei por apenas uma semana com os cachorros. O custo foi de 5000 bahts, o que equivale a mais ou menos 140 euros (novembro/2015) com acomodação e três refeições diárias inclusas.
Muitas pessoas perguntam “O quê??? Mas você paga para fazer trabalho voluntário? Que absurdo!”
Não, não é nem um pouco absurdo. Essas instituições tem um gasto enorme com comida, produtos de limpeza, medicamentos, veterinários, etc. E eu já gastei quase 300 euros por uma semana em Paris dividindo o quarto com mais 7 pessoas com apenas café incluído (e aposto que muita gente tem gastos parecidos quando viaja), ou seja, vamos começar a repensar isso aí. Sem falar que a oportunidade de conviver com os animais nesse ambiente não tem preço. 🙂
O ELEPHANT NATURE PARK
O parque fica a 60km da cidade de Chiang Mai, no norte da Tailândia e foi criado na década de 90 com o objetivo de resgatar e proteger os elefantes que sofrem maus tratos e abusos no país.
Lek, a moça que iniciou o projeto, é uma pessoa incrível! Infelizmente, perdi a palestra dela no parque, mas ouvi das pessoas que assistiram que ela realmente tem uma energia inspiradora. Ela começou sozinha a resgatar os elefantes um por um e agora, o parque abriga aproximadamente 40.
O parque promove não somente a boa saúde dos animais, como treina os mahouts (tratadores de elefantes) para que eles tratem os elefantes de forma adequada e tem programas de reflorestamento. Qualquer pessoa pode visitar o parque, mesmo que não seja para se voluntariar, porque eles tem diversos tipos de visita e o mais importante: nenhuma delas inclui o passeio no próprio elefante, atividade ainda tão divulgada na Tailândia, infelizmente.
Eu pretendo fazer um post do tipo PORQUE VOCÊ NÃO DEVE ANDAR EM ELEFANTES, mas para adiantar, digo que essa atividade fere o princípio de que elefantes são animais selvagens. Para eles chegarem ao ponto de deixar um humano subir em suas costas é porque o mesmo sofreu MUITOS maus tratos (marfim arrancado, ossos quebrados, cegueira provocada, problemas mentais) e apanhou por diversos anos. Além de que todos deveriam ser contra atividades onde há exploração animal porque eles não existem para nos servir e render dinheiro, principalmente, por um simples entretenimento e ponto final.
Além dos elefantes, eles abrigam búfalos, gatos e mais de 400 (!!!!) cachorros, também resgatados de maus tratos e do mercado ilegal de carne de cachorro (ai, meu coração, pai amado!). E, com mais de 400 cachorros para tratar, eles precisavam mesmo de um programa de voluntariado e eu agradeço demais a oportunidade de ajudar pelo menos um pouquinho. <3
CHEGANDO NO PARQUE
A semana do voluntário de cachorros começa no domingo por volta das 08h quando eles vão te buscar no seu hotel/hostel (ou você vai até o escritório deles, dependendo de onde você estiver hospedado em Chiang Mai) e só termina no outro domingo por volta das 16h quando eles te levam de volta à cidade. O programa de voluntariado com elefante é diferente e acho que eles só chegam ao parque às segundas. Ou seja, trabalham um dia a menos que nós.
Na van, o guia se apresenta, fala sobre o parque e passa um vídeo educativo de como se comportar e se vestir no parque. Os animais ficam todos soltos e é importante saber o que fazer caso encontre um elefante no seu caminho. Sim, isso acontece toda hora! <3
Ele também dá um porta-garrafa + garrafa (muito útil!!!) para cada um e a gente aproveita o tempo de ida até lá para ir conhecendo as pessoas que serão nossas companheiras durante a semana. No meu caso, éramos um grupo de 6 pessoas: 4 australianos, 1 canadense e 1 brasileira (eu!).
Quando chegamos, eles nos deram uma camiseta e enquanto esperávamos pelo almoço, o nosso guia nos levou para conhecer o parque. Andamos bastante, conhecemos alguns elefantes e voltamos para o principal ponto de encontro do parque: a plataforma. É lá onde os grupos se reúnem quando chegam, as refeições são servidas, há um auditório para palestras, a lojinha de souvenirs, uma passarela para observação dos elefantes e um “terraço” onde, à noite, tailandesas que vivem nas comunidades em volta do parque fazem massagens (oba!) por 180 bahts a hora.
O almoço é servido bem cedo todos os dias às 11:30h. O buffet é grande, mas como todas as comidas são vegetarianas, durante a semana você acaba enjoando de comer tofu nas variadas maneiras que eles preparam.
Após o almoço, a responsável pelo programa dos cães encontrou a gente e fomos com nossas mochilas até nossa acomodação, que fica dentro de um dos canis. Ou seja, cachorrinhos everywhere! <3
É claro que eu não esperava nenhum hotel cinco estrelas, mas achei que a casa dos voluntários poderia ser melhor cuidada. São três quartos com três camas cada um e dois vasos e chuveiros que ficam do lado de fora e separados. Como a casa fica dentro do canil e o chão é de cascalho, vemos poeira e pelos de cachorro por todo o lugar. Garrafas velhas dos antigos voluntários estavam largadas, a lixeira do banheiro estava transbordando e olha que era um daqueles latões grandes! E como na Tailândia não podemos jogar papel higiênico no vaso, dá para imaginar o cheirinho toda vez que abríamos a lixeira, né? #eca
Além disso, a parte do chuveiro tinha água fraca (como em todo o país) e também era meio nojenta, parecia que não lavavam há séculos. 🙁
Depois de acomodarmos nossas coisas, fomos conhecer a clínica, o lugar onde passaríamos mais tempo trabalhando, de fato. É lá onde ficam os cães que precisam de mais cuidados: os filhotes que acabam de chegar, os doentes, os que se metem em brigas e acabam levando mordidas…
São mais ou menos 20 cães que passam um variado número de dias em recuperação, dependendo do seu problema, presos em gaiolas. E é por isso que precisamos passear com estes de duas a três vezes por dia. Todos os outros cães ficam separados em vááários canis enormes, com casinhas e brinquedos. Sério, nunca vi cães tão bem cuidados, saudáveis e felizes como no ENP.
Nesse primeiro dia, também conhecemos as long-time volunteers, as meninas que já estavam lá há cinco, três meses e que são responsáveis por direcionar os novos voluntários. Já nessa primeira tarde, passeamos com alguns cães e ouvimos orientações sobre o 2º round de comida deles que é dado justamente às 15h e já tivemos a chance de ajudar.
Depois, fomos liberados para jantar e após o mesmo, assistimos uma palestra ou uma dança de boas-vindas. Sinceramente, não lembro. Porque das 7 noites que passei lá, em 4 tivemos diferentes eventos depois do jantar. #shameonme
A NOSSA ROTINA DE VOLUNTÁRIO
A nossa rotina era basicamente essa. Tínhamos atividades que precisávamos fazer todos os dias e cumprir os horários, mas tinha dias que tínhamos mais ou menos trabalho. Às vezes, ajudávamos as long term volunteers com algum cão que precisava de cuidados específicos. Às vezes, os voluntários dos elefantes apareciam no meio do dia para dar uma mãozinha e a gente deixava eles passearem com os cães mais tranquilos enquanto íamos fazer outra coisa.
E é por isso que eu disse no início do post que o trabalho com os elefantes apenas parecia mais pesado. Por semana, são aproximadamente 70 voluntários de elefantes contra apenas 6 voluntários de cachorros. Eles acabavam o trabalho deles bem rápido e ficavam livres para nos ajudar.
E por causa desse grande número de pessoas, recomendo chegar para as refeições uns 10 minutos antes para garantir os primeiros lugares da fila. Normalmente as melhores opções acabavam depois de um tempo e você era obrigado a comer o que sobrava. Paciência! Hehe
No jantar, em alguns dias da semana, eles faziam coisas especiais como churrasco vegetariano, khao soi (uma sopa típica tailandesa), massa…
O QUE É PRECISO LEVAR?
- Roupas confortáveis tipo de ginástica
- Algum sapato que possa molhar (eu ainda vou comprar uma temida Crocs por causa disso)
- Prendedor de cabelo
- Boné
- Óculos escuros
- Protetor Solar
- Repelente
- Tampões de ouvido
Essas são as coisas básicas necessárias. Eu levei um tênis que era ótimo para andar no cascalho, cimento, areia, etc, mas no primeiro banho que dei, ele ficou todo molhado e demorou para secar.
O meu repelente parecia não funcionar contrar os mosquitos gigantes desse lugar. Não sei porquê! 🙁
A MINHA EXPERIÊNCIA E CONCLUSÃO
Como eles mesmos avisam no site, a semana de voluntariado no Elephant Nature Park não é uma colônia de férias. O trabalho é cansativo (em muitas noites, a gente ia para cama às 20h (!!!) logo após o jantar, caindo de tão cansados), as acomodações não são das melhores (e os 400 cachorros começam a latir e a brigar no meio da madrugada, ou seja, uma boa noite de sono não é garantida) e você pode ficar muito emotiva, afinal, você está lidando com animaizinhos que dependem dos nossos cuidados e você acaba se apegando a eles.
Antes mesmo de chegar lá, eu seguia a página deles no facebook e já era apaixonada por uma das cachorrinhas. Scully é uma filhote que chegou lá com apenas três semanas. Os antigos donos-criadores disseram que “um livro” caiu em cima dela e aí ela nunca mais andou. Como eles não conseguiriam vendê-la, largaram ela no parque. Olha, eu não vou nem falar aqui o que penso dessa gente! Grrrrr!
Ela fica no canil destinado aos cães com deficiência e todas as manhãs, alguém a ajudava a evacuar (porque ela praticamente não sente nada da cintura para baixo), limpava, colocava fralda e passava óleo de côco nela todinha porque ela também tem a pele muito seca, ou seja, os mesmos cuidados de um bêbê! E mesmo com todas as dificuldades, ela pulava de um lado pro outro, brincava (e brigava!) com os outros cachorros e tinha uma personalidade forte. Como não amar essa figura?
No último dia, a supervisora nos liberou mais cedo para podermos nos despedir dos nossos favoritos. Fui correndo dar tchau para a Scully e passei um bom tempo com ela no meu colo. Eu não queria largá-la jamais e se eu pudesse, a adotaria sem pensar duas vezes! Nessa ocasião, ela fez xixi em mim, mas quem se importa?
O parque é um paraíso para quem gosta de animais e natureza porque você está rodeado disso o tempo todo. O wi-fi funciona mal e porcamente e só na plataforma, então você realmente se desliga de tudo e re-aprende a viver o momento, estar inteiro com as pessoas, respirar ar puro. Acordar com o sol e ir para a cama cedo eram coisas que eu não fazia há tempos e como foi revigorante!
Apesar do cansaço e de pensar que a Tailândia é um país que fica tão longe, eu mal posso esperar para voltar ao parque um dia. O amor que a gente recebe daqueles animaizinhos é indescritível e preenche o nosso coração das coisas mais bonitas que podemos sentir. Sem sombra de dúvidas, essa semana entrou para a lista das coisas mais incríveis que já fiz na vida.
QUER SER VOLUNTÁRIO TAMBÉM?
Recapitulando os dados:
CUSTO: 1 semana custa 5000 bahts (equivalente a mais ou menos 140 euros em novembro de 2015), com acomodação e três refeições diárias inclusas.
ONDE: 60km de Chiang Mai, no norte da Tailândia
COMO: Faça a sua reserva com antecedência AQUI.
Você também pode ajudar apadrinhando um cão ou sendo voluntário de voo. Muitos voluntários acabam adotando cachorros de lá, mas por não conseguirem levá-los no momento em que acabam o voluntariado, ficam na dependência de pessoas que estejam passando por Chiang Mai ou Bangkok (se não me engano, eles conseguem transportar o cão até a capital) para levarem os cachorros consigo em seus voos.
EXEMPLO: Um voluntário de Amsterdã que esteja fazendo um mochilão pela Ásia começa sua viagem fazendo o voluntariado (e quer adotar um cão), mas só vai voltar para casa dois meses depois e a volta é por Hanói, no Vietnã. Ele precisa de alguém que more na mesma cidade ou região que ele, que tenha um voo saindo da Tailândia na época em que ele já tiver voltado para casa. Assim, ele só precisa buscar o cão no aeroporto com a pessoa que se voluntariou em levar o cão no voo. Muito legal, né?
Eles estão sempre divulgando as cidades que precisam de voluntários no facebook, então, se você tiver de passagem pela Tailândia e puder ajudar, um cãozinho prestes a ganhar uma família agradece. 😀
Espero que o meu relato e todas essas fotos fofas tenham inspirado a você doar um pouco do seu tempo em prol desses anjos de patas, seja no Elephant Nature Park ou em uma instituição perto de você. 🙂
Excelente reportagem, com uma descrição completa de toda a rotina (adorei o gráfico) e que com certeza irá ser muito útil para aqueles que como você amam animais incondicionalmente, esperando apenas receber em troca o carinho mais sincero que existe! Parabéns pela sua iniciativa, coragem e amor!!!
Muito obrigada! <3
Parabéns excelente já to recomendando p amigos