“Lições Mágicas” é uma série de posts baseada nos podcasts do livro “Big Magic – Creative Living Beyond Fear” ou “Grande Magia – Vida Criativa Sem Medo” da autora Elizabeth Gilbert.
Como o próprio título já diz, o livro é sobre criatividade e todos os aspectos que estão envolvidos no exercício da mesma, principalmente o medo e a procrastinação.
As tais *Lições Mágicas* são como mapas para o caminho da criatividade. Aquele empurrãozinho extra que a gente precisa quando se sente empacado nas nossas vidas criativas.
Continue a nadar
Eu poderia começar dizendo que o título “Mergulhe no fundo do poço” seria mais condizente com o post mas, ao mesmo tempo que quero passar fielmente o conteúdo do podcast da Liz, não quero parecer tão dramática e nem incentivar os outros a ficarem ainda mais tristes. 😉
O post dessa semana é a continuação da história da Melissa (que eu contei na última Lição Mágica) e sobre lidar com a tristeza quando nos sentimos paralisados por ela. Ann Patchett, escritora e amiga da Liz, tem uma opinião própria e dá outra alternativa para lidar com a tristeza que eu chamo basicamente de “nade na merda!”. Haha
Melissa é cantora, compositora e há três anos, desde a morte da sua irmã caçula, não consegue mais escrever músicas. Ela quer escrever uma música em homenagem à irmã mas se sente bloqueada porque não sabe ainda se tem o direito e se poderá compartilhar com o mundo. Ela também acha que se não escrever sobre a irmã, não conseguirá escrever mais nada. E o contrário também: se não conseguir escrever sobre outras coisas, nunca conseguirá escrever sobre a irmã. Ad infinitum.
Presa numa areia movediça.
Sim, é assim que eu enxergo a Melissa e a mim mesma em algumas situações da minha própria vida.
O conselho de Liz nesses casos, onde a tristeza toma conta de nossos seres e interfere na nossa produção, é mudar a atenção para coisas completamente diferentes, de preferência, onde haja alegria. Porque ao trabalharmos focados em coisas que te tragam ânimo, luz e gratidão, magicamente, teremos êxito para lidar com a tristeza de uma forma mais madura, mesmo que demore. Além disso, sabemos que o tempo e a distração fazem milagres e ajudam no processo de secar as lágrimas para enxergar melhor.
Porém, Ann tem uma perspectiva completamente diferente. Ela acha que colocar o dedo na ferida de uma vez é mais eficiente. Cabe a você decidir em qual método se encaixa melhor.
Seu trabalho como remédio
Ann escreveu o livro “Truth and Beauty” que é sobre a amizade com outra escritora chamada Lucy. Elas tiveram uma relação muito forte já que Lucy, diagnosticada com câncer de mandíbula aos 9 anos de idade, cresceu em meio a várias cirurgias de reconstrução e acabou se envolvendo e morrendo por causa das drogas.
Imediatamente após a morte da sua amiga, Ann escreveu um texto sobre ela e o publicou em um importante veículo de comunicação. Só que, a partir dele, viu que tinha muito mais a escrever sobre a relação das duas e apenas um mês depois, começou a trabalhar em um livro.
Arrisco a dizer que Ann precisava escrever o mais rápido possível para tirar o peso dos ombros e para conseguir ver o sentimento como algo palpável e do lado de fora e não somente da perspectiva de dentro dela, provavelmente muito sombria por conta da tristeza. Eu sei que quando a gente escreve, pensa, fala, desenha sobre o que nos deixa tristes é muito doloroso, mas uma vez escrito, pensado, falado ou desenhado, provavelmente será muito libertador. No caso de Ann, não há dúvidas que a escrita teve um efeito terapêutico nela.
As consequências do seu trabalho criativo
A ansiedade (de novo ela) pelo resultado que queremos atingir funciona como um escudo que nos protege de fazer nosso trabalho. Voltando à Melissa, ela diz que quer escrever algo sobre a irmã, mas não sabe o que fará com aquilo depois. (Por que se preocupar com isso antes mesmo de ter seu trabalho concluído?)
Ann é enfática: mergulhe no poço, nade nas suas emoções, faça o que tem que ser feito e só depois decida o que fará com aquilo. Ela continua dizendo que não podemos fechar nenhuma porta durante o processo criativo, nem condicioná-lo, do tipo “isso eu vou publicar, então preciso tomar cuidado com as palavras”. Até porque, a verdade verdadeira é que ninguém se importa com o que a gente faz e nem tudo o que produzimos precisa “ver a luz do dia”. Podemos fazer coisas somente para nos satisfazermos a nós próprios e pronto, é isso. Ninguém precisa ver, muito menos saber.
E mesmo quando tentamos agradar os outros, nos ferramos. Liz conta que foi processada algumas vezes por causa de citações sobre outras pessoas em seus livros. Pessoas que ela temia que se incomodassem com o que ela havia escrito, não deram a mínima. E pessoas que ela tinha certeza que ficariam de boa foram as que a processaram.
Algo parecido acontece bastante comigo e com o que produzo. Ilustrações, textos, posts ou projetos, às vezes coloco todos os meus esforços em um deles achando que vão amar e fué, nobody cares. Outras, faço algo apenas para mim, sem grandes pretensões e vira uma grande coisa. Assim como aconteceu com o “Procura-se”.
E agora?
Você decide.
Mudar o foco para a alegria ou ir na direção oposta e colocar o dedo na ferida?
Quando se trata da tristeza (e algumas outras emoções), é válido tentar os dois e fazer um “experimento científico” do coração. E o mais legal é que, direta ou indiretamente, você vai acabar concluindo o que desejava. Eu sei que vai.
Afinal, Melissa triste ou feliz precisa continuar escrevendo suas músicas. Angustiada ou relaxada, eu e você temos que escrever posts, entregar relatórios, dar aulas, terminar projetos…
É apenas um trabalho.
Leia os outros posts da série:
INTRODUÇÃO – Como viver uma vida criativa e vencer a procrastinação
LIÇÃO 1 – Faça o que acende a sua alma
LIÇÃO 2 – Siga sua paixão com garra (especial para mães)
LIÇÃO 3 – O que você procura está procurando por você
LIÇÃO 4 – A disciplina para enxergar maravilhas
LIÇÃO 5 – Acesse sua alegria
Para ouvir mais sobre o assunto, baixe os podcasts AQUI. (em inglês)